O artigo do jornalista Manuel Dias Coelho “E os feios e os velhos, Senhor?” (março de 2013, Público) deu nota do culto da juventude ao qual os media não estão imunes, “com destaque para as televisões, nomeadamente a portuguesa, na qual a informação e o entretenimento parecem ser praticamente interditos a profissionais maiores de 50 anos. Quantos jornalistas “veteranos” vemos no pequeno ecrã com as idades de Mário Crespo, de Maria Elisa Domingues ou de Fátima Campos Ferreira?”.
O jornalista Henrique Garcia, despedido dias depois de festejar 70 anos, em entrevista ao jornal i (11 de maio de 2018), desabafou: “Quando recebi a carta de demissão senti que me tinham dado um tiro no meio dos olhos.”. HR recusa-se a aceitar a ideia de conflito de gerações, preferindo falar em “conflito de dignidade” porque “Portugal não é um país para velhos, nem para estagiários, não é para os novos, nem para os que estão no ativo que são descartados.”
A descriminação em função da idade ou idadismo (há autores que usam os termos “velhismo” ou “gerontismo”) é um dos estereótipos mais difíceis de identificar e erradicar, devido à sua aceitação social e à falta de ferramentas adequadas para a sua deteção e medição. Como informa a investigadora Sibila Marques, no livro Discriminação na Terceira Idade, o idadismo “pode assumir formas bastante subtis, disfarçado por mensagens aparentemente positivas.”
As Nações Unidas, no II Plano de Ação para o Envelhecimento, indicam como principal objetivo a luta contra os estereótipos negativos ou idadismo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) sublinha, anualmente, a importância de erradicar este tipo de imagens idadistas, sobretudo no âmbito da saúde, da intervenção social e da comunicação social.
Os órgãos de comunicação social têm uma responsabilidade social e uma obrigação profissional e deontológica de retratar com rigor e, inclusivamente, promover a imagem positiva das pessoas mais velhas e do envelhecimento, bem como de gerar uma cultura de respeito para com estas pessoas.
Difundir uma imagem truncada, negativa e equivocada dos séniores pode levar a que estes a interiorizem e pensem que não servem para nada, que são um embaraço, uma fonte de problemas, uma carga de trabalhos para as famílias e um “peso morto” para a sociedade.
É comum considerar-se a velhice como uma etapa da vida caracterizada pela passividade, doença, declive, deterioração, solidão, tristeza, fragilidade e perda de autonomia. Todavia, este grupo, cada vez maior, é bastante heterogéneo e tão diversificado como qualquer outro e há, todos nós somos capazes de apontar exemplos, muitos séniores que desenvolvem atividades regulares nos mais diversos âmbitos e contextos.
Os meios de comunicação podem ser um excelente veículo de socialização dos séniores, contribuindo para a erradicação do idadismo ou estereótipos negativos em relação à velhice; promoção do respeito pelos seus direitos e combate aos maus tratos.
Talvez seja um bom ponto de partida, levar em consideração a experiência dos séniores, tão importante como o empreendedorismo natural dos mais jovens. Não devemos fechar portas, mas construir pontes intergeracionais que permitam tirar partido da convivência entre as gerações sem que uma ostracize a outra.
JOSÉ CARREIRA
[1] IDADISMO – “Em termos gerais, o idadismo refere‑se às atitudes e práticas negativas generalizadas em relação aos indivíduos baseadas somente numa característica — a sua idade. (…) As atitudes idadistas estão relacionadas com o preconceito ou os sentimentos que temos em relação a este grupo etário.” (Sibila Marques, In Discriminação na Terceira Idade, 2011, FFMS)