As investigações sobre preconceito e discriminação baseados na idade demonstram que este tipo de descriminação está surpreendentemente difundido e, ao contrário de outros “ismos” (racismo, machismo, feminismo), que tantos se empenham, este “ismo” parece instalar-se como a causa de todos os nossos problemas.
Resgatei estas palavras de um poema de Cecília Meireles para escrever sobre o “ageism”. De facto, as questões relacionadas com o “ageism [1]” têm sido uma preocupação desde 1969, quando foi, pela primeira vez, introduzido o conceito pelo médico americano Robert N. Butler sob a definição de “estereótipos sistemáticos ou discriminação contra pessoas porque são idosos”.
As investigações sobre preconceito e discriminação baseados na idade demonstram que este tipo de descriminação está surpreendentemente difundido e, ao contrário de outros “ismos” (racismo, machismo, feminismo), que tantos se empenham, este “ismo” parece instalar-se como a causa de todos os nossos problemas. A sociedade grisalha é apresentada como uma maldição e não como uma bênção. De facto, como bem ilustra Cecília Meireles no poema que serviu de titulo a esta crónica, as pessoas mais velhas em Portugal parecem ter de se desculpar por viver ainda… Afinal são a causa de todos os nossos problemas; o SNS afunda porque a sociedade está envelhecida e doente, não existem empregos porque as pessoas estão capazes de trabalhar até mais tarde, a segurança social não é sustentável…E?? Isso não seria facilmente previsível? Afinal, não seria expectável que este problema tivesse sido antecipado e, de facto, o país tivesse preparado para em vez de estigmatizar este grupo lhe (e nos) permitisse usufruir de uma vida verdadeiramente com qualidade e com dignidade?
A PORDATA nos dados publicados esta semana indica que em 2008, havia 115 idosos por cada cem jovens até aos 15 anos. Em 2018, subiu para 157 idosos por cada cem jovens. Além disso, o índice de dependência de idosos aumenta: 27 idosos dependentes para 100 pessoas em idade activa em 2008 e 34 em 100 no ano de 2018. Mas, ao que parece, além de termos falhado nas previsões parece que continuamos paralisados no presente. Nada parece acontecer…A grande ironia é que este tipo de “ismo”, potencialmente, irá afectar todos e cada um de nós, independentemente da raça, sexo, religião…É, de facto, uma discriminação contra nós próprios deferida no tempo…Resgatando outro poema de Cecília Meireles, “Já não se morre de velhice nem de acidente nem de doença, mas, Senhor, só de indiferença”. Esta indiferença é gravemente culposa e colectiva, mas pode suscitar uma reacção positiva da sociedade em geral, numa consciencialização de que há caminhos e que urge encentar a jornada para atingir o almejado fim de uma vida com qualidade e dignidade, independentemente da idade cronológica.
[1] Tem sido traduzido para português como “idadismo” pese embora esta última designação não ser específica para a discriminação dos mais idosos mas sim para a idade como critério de discriminação. Também a tradução gerontismo, que me parece pouco adequada, aparece em alguns estudos. Assim, por dificuldade de tradução optei pelo uso da palavra em inglês.