Quando “Top Gun: Ases Indomáveis” (1986) chegou aos cinemas, Tom Cruise tinha 24 anos e seu par romântico, Kelly McGillis, 29. Os dois estavam no auge da juventude. O longa era uma ode à coragem, destemor, ousadia e também à beleza daqueles jovens. Foi um sucesso estrondoso também pelas cenas de alta adrenalina, com manobras aéreas espetaculares. Pete “Maverick” Mitchell era um piloto de caças talentoso e rebelde, combinava sua extraordinária habilidade a soluções criativas, mas arriscadas. Charlotte “Charlie” Blackwood, uma instrutora de voo bem-sucedida e independente, representava a “mulher moderna” da época, com suas jaquetas de couro e cerveja em punho.
TRINTA E SEIS ANOS DEPOIS, O QUE ACONTECEU COM ELES?
Maverick continua um “ás” no comando dos jatos mais avançados, arrojado e mais experiente. Só que agora é chamado de “tio”, “coroa”, pelos novos “melhores pilotos da Marinha americana” e de “velho” pelos seus comandantes. Idadismo se manifestando na tela… A missão que recebe é ENSINAR. Olhado com desconfiança pelos jovens, ele vai provando que só a perícia não basta, a vivência na solução de problemas é fundamental. E que manter uma boa dose de confiança e atrevimento – não importa a idade – faz a diferença.
1a.lição: O trabalho intergeracional que alia talentos e capacidades à experiência e troca de saberes impulsiona qualquer missão para a inovação e o sucesso. Os maduros têm qualidades importantes, como a resiliência, e muito a ensinar.
Mas e quanto à Charlie? A mulher forte e arrojada de 1986 sumiu em 2022. Simplesmente desapareceu. A atriz Kelly McGillis acha que foge dos padrões hollywoodianos de “juventude eterna” e por isso não foi escalada para esse e outros trabalhos. Em entrevista ao Entertainment Tonight, declarou: “Eles não entraram em contato comigo, e nem achei que iriam. Eu estou velha, estou gorda, e tenho uma aparência apropriada para a minha idade. Esse não é o tipo de coisa que essa ‘cena’ [dos blockbusters] valoriza”. Idadismo se manifestando fora das telas…
“Honestamente, prefiro me sentir segura e confortável no meu corpo, em quem eu sou e no que eu sou na minha idade, do que colocar valor nessas outras coisas”.
Hoje, Kelly está com 64 anos e Tom com 59 (completa 60 em 3 de julho). O filme não deixa claro se a trama de agora acontece 36 anos depois da versão original. Mas não parece. O personagem filho do melhor amigo Goose, que morreu no primeiro filme, aparenta estar na faixa dos 26 anos. É como se para Tom Cruise tivessem se passado apenas duas décadas e não mais de três. A forma física do ator não foi questionada. Ele mesmo disse em uma entrevista ao programa Fantástico, da Globo, que nunca sofreu preconceito pela idade.
“Não (sofro preconceito), estou interessado mesmo em criar minha vida. Sim, sempre aprender e me desafiar…”
2a. lição: O Idadismo se manifesta mais fortemente contra as mulheres, que sofrem a cobrança da “juventude eterna”, somada ao machismo, especialmente para os padrões da indústria hollywoodiana, mas muito comum aqui pertinho na nossa sociedade.
“Top Gun: Maverick” (2022) também tem levantado o debate sobre ser um filme “heterotop”, assim como o primeiro – revisto neste momento. O Macho-Alfa e a valorização do corpo, do poder e da “maestria” do homem branco e hétero estão lá. Por outro lado, a produção se preocupou em atualizar a história; o elenco está bem mais diverso. Entre os pilotos, há mulheres e pessoas latinas, negras, asiáticas. E nenhum deles precisa ficar provando que pode estar ali entre os melhores do mundo.
3a. lição: Se a década de 80 não tinha a diversidade, a inclusão e a equidade entre seus maiores valores, não se deve apegar a velhos paradigmas. Independentemente da idade, o mundo tem (e nós também) que se atualizar e defender a naturalização da igualdade.
“Top Gun: Maverick” arrecadou mais de U$900 milhões pelo mundo. É a maior bilheteria em toda a carreira de Tom Cruise! Há, claro, quem não goste, mas o filme reuniu várias gerações, na plateia, e mostrou a força de consumo dos 50+. Os nostálgicos da Geração X e BabyBoomers correram aos cinemas para assistir a continuação de uma aventura que marcou época. Nas entrelinhas, Maverick desperta o sentimento de “descarte” de suas habilidades pela evolução tecnológica. E traz um ator que melhora com a idade (mesmo pra quem não gosta). Cada vez mais maduro na arte de interpretar.
4a. lição: Não menosprezem a potência dos 50+, seja nas telas ou fora telas!
Marcia Monteiro é jornalista, fundadora da Geração Ilimitada Estudos e Palestras e pesquisadora de tendências da longevidade e gerações