ARTIGO EM DESTAQUE: Promover o envelhecimento com dignidade é uma escolha política
FONTE: Jornal Público
Autora: Rosa Valente de Matos
Porque não criar um Ministério ou uma Secretaria de Estado para as Pessoas Idosas?
Como é que se explica que, em 2025, continuemos a falhar sistematicamente aos nossos idosos?
Há 30 anos, o senhor Manuel (nome fictício) ficou semanas internado no hospital à espera de uma filha que, afinal, nunca chegou. Em 2024, os filhos de um idoso ficaram aflitos com a notícia de que o pai tinha recuperado, porque não tinham como cuidar dele. Histórias que se repetem há décadas em Portugal, o segundo país da União Europeia com o maior índice de envelhecimento e o quarto país do mundo com maior proporção de população idosa.
Nos anos 90, quando visitava uma enfermaria hospitalar, o senhor Manuel contou-me que estava há três semanas à espera que a filha o fosse buscar. Tinha tido alta hospitalar e sentia que estava bem para voltar para casa e cuidar das suas galinhas e ovelhas, entretanto deixadas à guarda de um vizinho. Mas a filha não só não o ia buscar como também já tinha deixado de o visitar. Ele, por seu lado, não aceitava ir para um lar. Uma espera angustiante, sem fim à vista.
Estes testemunhos provam bem a realidade que se vive de forma crescente nos nossos hospitais, devido à ausência de uma resposta estruturada, que deveria ser pensada e construída ao longo do percurso de vida dos cidadãos. A situação demográfica do país é preocupante e tem implicações em todos os setores da sociedade, nomeadamente na Economia, na Saúde e na Segurança Social.
Que políticas foram definidas e que medidas foram adotadas para responder a esta situação demográfica, conhecida por todos os decisores políticos ao longo das últimas décadas?
Não estamos a falar de aumento do número de camas em lares e na Rede de Cuidados Continuados Integrados, nem do aumento das pensões ou do Complemento Solidário para Idosos, todas elas medidas meritórias e bondosas.
Estamos a falar de envelhecimento saudável, de qualidade de vida para os mais velhos, que ultrapassa em muito todas as medidas avulsas que aparecem geralmente em época de programas eleitorais.
Aos 70 anos de vida, e para alguns mais cedo, chega a pergunta: “O que vou fazer agora?” Trabalhamos durante décadas, por vezes na mesma instituição, e somos dispensados através de uma carta que diz que no dia X estamos desligados do local onde trabalhamos, sem nenhuma indicação do que podemos fazer a seguir e quais as alternativas para continuar a ter uma vida ativa.
FONTE: Público
Administradora hospitalar