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NÃO! OS IDOSOS NÃO SÃO CRIANÇAS DUAS VEZES. *

Começo este artigo com um breve exercício: imagine-se por um momento que já viveu muitos anos, com muitas aventuras, uma vida plena e repleta de experiências, aprendizagens e muitas conquistas pessoais e profissionais. Criou já uma família, construiu uma carreira e celebra 80 anos de vida. Porém, ao invés de celebrar a sua vida com sabedoria, liberdade e independência, repara que é tratado como se tivesse deixado de ter uma voz ativa, que começa a ser questionada a sua autonomia e consciência, as decisões passam a ser excluídas e desconsideradas e a sua opinião também é ignorada.

Esta é, infelizmente, a realidade que algumas pessoas mais velhas enfrentam diariamente, um cenário onde a infantilização torna-se uma sombra subtil, mas perturbadora, sobre as pessoas mais velhas.

Talvez nunca tenha pensado assim, mas a infantilização das pessoas mais velhas é uma prática que envolve tratá-las como se fossem crianças, reduzindo a sua independência e dignidade. Neste artigo, pretendo alertar e apresentar alguns exemplos de como estas atitudes são prejudiciais e condicionam não apenas a qualidade de vida, mas também a nossa própria evolução como sociedade consciente e inclusiva da diversidade etária.

No passado dia 7 de outubro de 2023, a Associação Stop Idadismo e a American Society on Aging celebraram o Dia de Consciencialização sobre o Idadismo. Inspirado no Dia Internacional da Pessoa Idosa das Nações Unidas (1º de outubro), o Dia da Consciencialização sobre o Idadismo oferece uma oportunidade para chamar a atenção à existência e ao impacto do Idadismo na nossa sociedade.

 

Infantilizar as pessoas é também uma forma de violência, que se pode manifestar das seguintes formas:

  • Uso excessivo de diminutivos: Tratar a pessoa com diminutivos constantemente, como chamar uma senhora de “florzinha” ou um senhor de “principezinho”, pode ser considerado infantilização, especialmente se isso for feito de forma insistente em situações que não o justifiquem.
  • Tomar decisões pelos outros: Ignorar a capacidade da pessoa mais velha, tomar decisões sobre a sua própria vida, como finanças, cuidados de saúde ou até mesmo sobre escolhas alimentares, pode também ser uma forma de infantilização.
  • Falar com condescendência: Usar um tom de voz infantil ou condescendente ao comunicar com alguém, apenas porque é mais velho, é outra maneira sutil da pessoa sentir-se infantilizada, como por exemplo, explicar situações óbvias de forma excessivamente simplificada.
  • Limitar a mobilidade: Impor restrições de mobilidade excessivas, como proibir as pessoas de sair de casa ou evitar que participem em atividades físicas, com base nos estereótipos sobre a sua fragilidade, também é uma forma de infantilização.
  • Menosprezar habilidades: Desvalorizar ou ignorar competências/interesses, como a sua capacidade em aprender ou desenvolver novos gostos e ocupações.

Terminamos este exercício com uma breve reflexão: lembremo-nos que a idade não define a nossa essência, a nossa genuinidade, os nossos valores, vontades e convicções. Cada pessoa é especial e única e detém de uma história de vida que não deve de ser desvalorizada.

Cada um de nós, independentemente da idade, merece ser tratado como o protagonista de sua própria história, com respeito, dignidade e liberdade.

* Alexandra Menezes 

-Psicomotricista da Casa do Povo de Santa Bárbara da Ilha Terceira 

-Ativista da Associação STOP IDADISMO

 

FOTO DE CAPA: IMAGEM DO FREEPIK

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