Estou, aqui, nua, e imagino a minha neta mais velha do que eu. Oiço-a comentar o futuro que comprometi com os meus gestos. Repenso o que faço a cada dia, o que ainda tenho para fazer e quando quase me preparo para lhe fazer uma pergunta, ela interrompe-me e diz-me:
– Sim, ainda vale a pena. Porque no futuro haverá sempre futuro se agora estiveres presente.
Fiquei a pensar. Ainda terei tempo?
– Teremos sempre tempo – respondeu a minha neta agora, lá, no futuro, com mais do que a minha idade de hoje. – Vamos começar?
– Como fazemos?
– Fecha os olhos.
E eu fechei os olhos.
– Agora dá-me a tua mão e ligamos o teu passado ao meu futuro.
E eu, ainda um pouco mais nova do que ela, dei a mão à minha neta mais velha. Respirei fundo.
– E agora?
Propusemos aos criadores e elenco projetarem uma ficção coreográfica dos imaginários num tempo em que os jovens de hoje terão a idade dos seus avós, inundados do que sabemos e sentimos sobre as crises do mundo presente.
Esta peça, que estreou na Fundação Calouste Gulbenkian no passado mês de Janeiro, fecha o ciclo do projeto Causa Maior (2021-2024), que desenvolveu reflexões e estratégias de advocacia para promover e sustentar o envelhecimento criativo e desconstruir o idadismo e a exclusão social das pessoas Maiores e tem como co-produtores o Teatro Viriato e o Cineteatro Louletano.