Artigo de Eduardo Dâmaso, no Correio da Manhã:
A única crítica feita à nomeação de Amadeu Guerra para o cargo de procurador-geral está na sua idade. Tem 69 anos, fará 70 em janeiro. Nunca houve um procurador-geral da República que iniciasse funções tão velho.
A questão é interessante, mas, no caso concreto, não é impeditiva de nada. Ela resulta, sobretudo, do ambiente de idadismo cego que reina em alguns setores e que está a dispensar a experiência e o saber de alguns dos melhores quadros da vida pública portuguesa.
O tema foi bem levantado há algum tempo num livro de Eduardo Paz Ferreira e merece reflexão aprofundada em todas as áreas. Na Justiça, temos excelentes procuradores, juízes e polícias colocados na prateleira da reforma ou da jubilação que poderiam ser ainda de enorme utilidade em várias frentes, se para elas fossem convocados. O mesmo acontece noutros setores.
Prevalece uma lógica de indiferença, que vive paredes-meias com o medo da autoridade própria da experiência e do saber.
O Estado não tem uma estratégia para os aproveitar e as hierarquias que lhes sucederam não estão interessadas em ter sombras a pairar sobre as suas cabeças. Há toda uma dimensão mesquinha e uma espécie de sonambulismo estatal que prejudica o País e algumas das suas instituições.
Quando mais não fosse, deveriam ser utilizados para transmitir o conhecimento às novas gerações de profissionais. Todos ganhariam.
FONTE: CORREIO DA MANHÃ