É muito natural que a AD queira repor aos políticos os 5% salariais retirados durante os tempos da troika. Está-lhe no ADN a “justiça social”…
No tocante à outrora apodada por um deputado do PSD “peste grisalha”, os mais velhos, os reformados, quanto a aumentos visando conceder alguma dignidade e qualidade de vida aos 3,5 milhões de portugueses nessa situação, tal só estará previsto para as calendas e se as contas públicas o permitirem, segundo a ministra do Trabalho. Que o mesmo é dizer, vamos entreter-vos com promessas e quando se aproximarem eleições — a menos de um ano temos as autárquicas — reformularemos novas promessas, e logo se verá.
Claro está que os reformados não são prioritários e nenhum poder contestatário detêm. Não usam pistolas nem cassetetes, não lidam com as vidas humanas, não pertencem aos poderosos lóbis por aí pululantes.
Destes reformados, mais de metade usufrui pensões de autêntica miséria, que lhes permitem uma agónica sobrevivência quotidiana sem um mínimo de qualidade de vida.
Por seu turno, grande parte dos políticos, além dos generosos salários que recebem, da política tiram passaporte vitalício para outros voos, mormente no sector do privado, que muito lhes aprecia as qualidades e os desempenhos. Vá-se lá saber porquê!?
Além disso e deles próprios, granjeia-se com alguma regularidade uma sinecurazinha para cônjuges e familiares próximos. O que é justo!
Não quer dizer que estejamos perante uma casta elitista, em muitos casos despudorada e alheada do real… Antes pelo contrário!
A mero título de exemplo e para nos situarmos por defeito num universo nacional de milhares de políticos, vejamos os salários pagos na Assembleia da República, segundo o site do Parlamento:
A estes montantes somam-se os abonos de tipo geral e abonos decorrentes de atividades parlamentares específicas, além dos diversos subsídios. Trabalham, merecem. Lutam diariamente pelo nosso bem estar e pela democracia em Portugal. Embora 95% dos portugueses não saiba sequer o nome dos representantes dos seus círculos eleitorais, mesmo sem nome, eles estão lá. E se não sabem o nome, a culpa é só do desinteresse e da iliteracia política de quem só se preocupa com futebol, fado e fé.
Estes montantes não serão elevados, segundo os critérios dos próprios que os auto atribuem. São-no apenas comparados com as miseráveis pensões auferidas pela grande maioria de aposentados, que nem sequer chegam ao salário mínimo nacional de 820 € brutos.
E o valor de ajustamento de 5% não é desconforme, sendo-o apenas porque não há 1,5% para estes quase 4 milhões de portugueses, ou seja, aproximadamente 1/3 da nossa população, cada vez mais envelhecida e carenciada de recursos para um dia-a-dia condigno e justo.
PAULO NETO: Diretor da Plataforma Rua Direita