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Luciana Gimenez sobre etarismo: “Envelhecer dói esteticamente e mentalmente”

Apresentadora, de 52 anos, diz que pressão para não envelhecer que vem da sociedade e do mercado acabam impactando a autoestima das mulheres

 

Luciana Gimenez, desde que começou sua carreira nas passarelas, é uma referência de beleza no Brasil e no mundo. Apesar de se manter jovial e esbelta aos 52 anos, a apresentadora afirma que não é poupada da pressão que a mulher sofre para não envelhecer.

“Por mais que as pessoas queiram romantizar o envelhecimento, a sociedade, principalmente com a mulher, ainda cobra e julga de forma cruel a falta de seios empinados, cútis hidratadas naturalmente e pele firme. Envelhecer pode não ser a melhor experiência da sua vida”, analisa ela em texto exclusivo para a Quem.

“Envelhecer é entender que não se pode mais pôr o pé na jaca como antes, tanto no álcool quanto na comida, e nem é pelo ganho de peso, que a certa altura já nem ligamos, mas também pela ausência do metabolismo. É entender que todo dia você ouvirá uma brincadeira ou frase etarista”, segue.

Com mais de três milhões de seguidores no Instagram, Luciana diz que é comum ouvir comentários preconceituosos. “No Brasil, nós mulheres somos confrontadas com frases como: ‘Agora dá para trocar por duas de 20’ ou ‘Você acha que ainda tem idade para isso?’. Isso, além de criar um senso de rivalidade entre mulheres mais velhas e as mais novas, também afeta diretamente a autoestima”, destaca.

“Babacas etaristas sempre existirão para nos lembrar que tudo que passamos e todo o conhecimento que adquirimos durante toda uma vida irão se resumir a duas frases: ‘Você está muito bem para sua idade’ ou ‘Acho que isso não é apropriado para sua idade'”, completa.

Envelhecer pode não ser a melhor experiência da sua vida

 

Por mais que as pessoas queiram romantizar o envelhecimento, a sociedade, principalmente com a mulher, ainda cobra e julga de forma cruel a falta de seios empinados, cútis hidratadas naturalmente e pele firme.

Em uma sociedade que sempre priorizou o homem, ser mulher após os 40, é ganhar papeis de bruxas no cinema, como já relatou a maravilhosa Meryl Streep ou ser comparada a maracujás, nas rodas mais misóginas.

Já repararam nas placas que falam de pessoas idosas? São pessoas curvadas, com dores nas costas, bengalas e, por vezes, decrépitas. Sério que é assim que se representa alguém em pleno gozo da vida? Essa é a visão que se tem do envelhecer?

Enquanto nas culturas orientais existe toda uma importância em envelhecer, no Brasil, nós mulheres somos confrontadas com frases como: “Agora dá para trocar por duas de 20” ou “Você acha que ainda tem idade para isso?”.

Isso, além de criar um senso de rivalidade entre mulheres mais velhas e as mais novas, também afeta diretamente a autoestima.

Para o mercado da beleza, é um prato cheio. Mulheres se amontoam em clínicas de estética e consultórios de dermatologia para se submeterem a sessões de choque, agulhadas, lasers que literalmente tiram nosso couro, entre outras coisas, que em tempos passados ganhariam a nomenclatura de TORTURA.

Em pleno 2022 isso se tornou tão comum que pagamos altas somas, além de esperarmos ansiosas pelo próximo tratamento revolucionário que irá nos livrar da pergunta: “Você está gostando de envelhecer?”.

E já adianto a resposta óbvia para quem sempre trabalhou num mercado que cobrava a jovialidade e que vive numa sociedade machista: não!

Apesar do discurso de inclusão, a mulher mais velha, por muitas vezes, é chutada para fora, como algo sem finalidade.

O mercado também não ajuda, principalmente quando associam diretamente em suas campanhas de bem-estar, produtos de beleza e sucesso à juventude. Quando mulheres que estão em posição de comando nos departamentos de marketing privilegiam a beleza dos 20 e 30 anos como padrão nessas campanhas, compactuam abertamente com uma cultura cruel.

Isso mostra que o preconceito também vem de quem tem o poder de combater.

Que me perdoem as ditas bem resolvidas, sem neuras e que não ligam para as cobranças, aplaudo vocês, mas em sua maioria, somos moldadas em encanações, traumas e cobranças criadas, muitas vezes, por mães que ensinam a seus filhos que a mulher tem que ser perfeita para eles, enquanto tais filhos, em grande parte ‘embagulhados’, acham que mais vale uma bundinha empinada do que conteúdo na cabeça.

Envelhecer dói sim, esteticamente e mentalmente. É uma luta que sabemos que não vamos ganhar, ainda mais numa sociedade que a mocinha da novela é sempre uma jovem, que a campanha de cabelos tem como protagonistas mulheres no início de sua vida adulta, ou ainda mais, quando se padroniza que as plásticas estão aí para nos deixar mais jovens. Por que ser mais jovem é o ideal?

A luta contra a lei da gravidade vai ser constante durante vida. Ela jogando para baixo e a gente empurrando para cima. É entender que não se pode mais pôr o pé na jaca como antes, tanto no álcool quanto na comida, e nem é pelo ganho de peso, que a certa altura já nem ligamos, mas também pela ausência do metabolismo.

É entender que todo dia você ouvirá uma brincadeira ou frase etarista, como por exemplo: “Panela velha é que faz comida boa”. Alguém ainda acha que isso é um elogio?

Até o dia que você ligar o foda-se e entender que quem não envelhece é porque morreu e estar viva é uma dádiva.

E alerto que os babacas etaristas sempre existirão, para nos lembrar que tudo que passamos e conhecimento que adquirimos durante toda uma vida, irá se resumir a duas frases: “Você está muito bem para sua idade” ou “Acho que isso não é apropriado para sua idade”.

Foto de capa: Luciana Gimenez Whagner Duarte/Reprodução do Instagram
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