Vamos direto ao ponto: o problema é o preconceito. O problema é o comodismo mental de quem ainda acredita que valor tem prazo de validade. O problema é o etarismo — essa forma disfarçada de discriminação que silencia vozes experientes, exclui talentos maduros e despreza décadas de conhecimento como se fossem lixo obsoleto.
Não, o problema nunca foi a idade. Porque idade é dado, é tempo vivido, é estrada percorrida. O que paralisa a inclusão é o olhar enviesado de quem acha que inovação só vem de quem tem menos de 40. É o sistema que demite quem tem 60 anos como se estivesse fazendo um favor, quando na verdade está descartando justamente quem poderia evitar erros, antecipar crises, ensinar com consistência e liderar com humanidade.
Sabe o que envelhece? A mentalidade que resiste à mudança. A cultura corporativa que ainda acha que “renovar” significa apagar o que veio antes. A sociedade que enaltece juventude, mas não constrói caminhos para que ela amadureça com dignidade.
Estamos vivendo mais, sim — e melhor também. Segundo o IBGE, a expectativa de vida no Brasil já ultrapassa os 77 anos. Em Portugal, já passa dos 81. E a ONU projeta que, em 2050, haverá mais idosos que crianças no planeta. Então me diga: vamos continuar fingindo que pessoas com 60, 70, 80+ anos (como eu) são problema ou vamos finalmente reconhecer que elas são parte da solução?
O mercado, as empresas, a mídia e até os governos precisam acordar: a longevidade é o futuro — e ela começa agora. Ignore-la é não só injusto, não é economicamente inteligente. Porque sem diversidade etária, não há criatividade real. Sem convivência intergeracional, não há inovação sustentável. E sem respeito à maturidade, não há sociedade justa.
O problema não é a idade. O problema é o atraso mental de quem ainda não entendeu que envelhecer é um privilégio e que com sorte também irá envelhecer — e incluir é uma urgência.
José Jerónimo